sexta-feira, julho 22, 2005

Será que posso ter esperança …

Nestes últimos dias aconteceram “coisas” importantes:

António Barreto, num programa da RTP, indignou-se contra o estado do País e colocou o “Estado” como causa do problema (ou seja, a concepção de Estado existente em Portugal e a forma como opera).

Campos e Cunha demite-se e coloca em causa o “Estado” e, em particular, a forma como decide sobre os investimentos públicos; ao demitir-se privilegia a “honestidade intelectual” ao oportunismo político.

Miguel Sousa Tavares, no Público de hoje, não só se indigna com o estado do País (o que não é de hoje, embora sempre tenha sida algo mais complacente com os governos socialistas) e aponta claramente (e com a sua facilidade de comunicação escrita) que o problema de Portugal se situa no Estado, na nossa concepção societária.

As suas vozes juntam-se, assim, às de Pulido Valente (que nunca aponta alternativas), de Medina Carreira (que com elevado brilhantismo, suportado em aturado estudo, reflexão e rigor cientifico, divulga ao grande público as distorções da sociedade portuguesa) e de J. C. Espada que procura enquadrar o “estado das coisas” dentro de modelos conceptuais que nos apoiem na compreensão e reflexão do que se passa.

Eventualmente, haverá outros … mas não muitos!

Será que posso começar a ter esperança …

Só um amplo movimento de intelectuais portugueses, batendo na mesma “tecla”, nos pode dar alguma esperança.

Não se trata de ser mais à esquerda ou à direita; trata-se da necessidade de intelectuais sérios, honestos, com amor à objectividade (sempre, cientifica) e com sentido do “ser-se português” virem a terreiro “desmascarar” o que está mal, “desmascarar” as soluções que se têm adoptado e apontar o que temos de fazer.

Eu não quero acreditar que as “amarras culturais” de José Gil não possam ser quebradas.

Embora pareça cada vez menos, também, há políticos (intelectualmente) honestos.

Eu acredito, sinceramente, que Mário Soares é um político honesto e bem intencionado (o que não evita, poder “ir para o inferno …”).

Livrou-nos do Comunismo mas não nos livrou dum Estado autocrático, embora paternalista – mas aqui José Gil ganhou: as “amarras culturais” foram mais fortes pois dificilmente Portugal poderia ter procurado uma “solução” fora da sua tradição “autocrática” de Estado e fora do tipo de relação tradicional que este desenvolve com a sociedade civil portuguesa (esquerda e direita têm a mesmíssima cultura).

Será que está cada vez mais claro que o problema de Portugal está na sua concepção de “Poder Público face à Cidadania”?

Só um amplo movimento de intelectuais e de políticos honestos e com consciência do “ser-se português” nos pode dar esperança.

Será que um movimento está a surgir?

Será que, finalmente, posso ter esperança …