segunda-feira, julho 18, 2005

Porsche’s, investimentos e crise


No Público de 13-7-2005, Joaquim Fidalgo, pergunta (e comenta): “algum país em recessão, aumenta as vendas de automóveis de luxo?”

Não quis deixar de agarrar a “dica” de Joaquim Fidalgo que, muito a propósito, me parece ter “agarrado” um “sinal” do que se passa em Portugal.

A ideia que se tem, é que só pessoas muito ricas, em países muito ricos, é que devem proporcionar a existência de índices elevados de carros topo de gama e de luxo.

Contudo, se isso pode ser verdade também é certo que se vê o mesmo em países aonde a pobreza atinge parte significativa das respectivas populações; por exemplo Rússia, Angola, Nigéria, Brasil, países árabes, etc. - países de “crise endémica”.

O que há de comum entre estes países (de “crise endémica” e elevado índice de Porsche’s) e por exemplo a Inglaterra e os EUA?

Há o facto de haver pessoas muitíssimo ricas em todos esses países.

E o que há de não - comum?

Há, pelo menos, o facto de grande parte das respectivas populações viveram na miséria, enquanto que em Inglaterra e nos EUA se passa, precisamente, o contrário.

Com excepção eventualmente do Brasil (e, cada vez mais, da Rússia), no qual há agentes privados com elevada capacidade de criação de riqueza de moto próprio (mais ou menos protegidos pelo Estado); nos restantes países, o Estado constituiu-se como o grande “concentrador” e “redistribuidor da riqueza nacional” que anualmente é criada na respectiva sociedade (países de forte subsidio - dependência).

Ou seja, na Inglaterra e nos EUA, o “direito ao Porsche” é o resultado do “trabalho - depois dos impostos”; nos restantes países, “o direito ao Porsche”, é o resultado da capacidade de acesso à “mesa do Orçamento do Estado”.

Enquanto que em Inglaterra e nos EUA os detentores de Porsche’s são “contribuintes líquidos” das respectivas sociedades; nos restantes países são “beneficiários líquidos” dessas sociedades.

Habitualmente os “grandes beneficiários líquidos” das respectivas sociedades dão menos valor ao dinheiro que os “contribuintes líquidos”; o dinheiro “custa-lhes” muito menos para ser adquirido.

Os “contribuintes líquidos”, todos os dias, têm de criar riqueza para si e para a respectiva sociedade; os “grandes beneficiários líquidos” têm de preservar o seu estatuto na administração pública (e política) para continuar a auferir desse direitos de acesso à mesa do orçamento (ou seja, a “policia” fiscal trabalha para eles!).

Portugal, com os seus portugueses de Porsche’s, parece-me que se engloba perfeitamente no grupo desses países aonde o acesso à “mesa do orçamento de Estado” lhes confere o “dinheiro fácil” que motiva a propensão a esse tipo de despesa (nos elevados índices em que ocorre apesar de se estar num país com 20% de pobres e parte significativa da restante população não estar muito longe da pobreza).

A resposta a Joaquim Fidalgo parece estar dada: o elevado índice de “direitos de Porsche” existente em Portugal não é só sintoma de “crise”; é sintoma de “crise endémica”.

1 Comments:

At 5:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

gostei muito de o ler

 

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