segunda-feira, julho 11, 2005

24 mil milhões de euros irão “secar”, ainda mais, a economia nacional (a crise está para ficar)

Principal investimento público: a construção civil

Quando se entra em Portugal e para qualquer local por a onde se vá, o que vemos é “construção civil” por todos os lados.

Refiro-me a isso porque a “riqueza nacional”, anualmente criada, parece estar a ser aplicada em grande parte na construção civil.
Se esta “come” parte significativa da "capacidade de investimento" do País, naturalmente, pouco sobra para ser aplicado em outros tipos de investimento!

Isso não é só da responsabilidade da sociedade civil; o Estado faz precisamente o mesmo, ou pior ainda quando “empurra”, ainda mais, os investidores privados para a construção civil!

O Estado chega ao ponto de construir “sem fins utilitários”, como vimos atrás (por exemplo, estádios de futebol e “casas de música”, sem “músicos” e clientes), como se o seu papel fosse construir a “qualquer preço” e por todo o lado!

Admira-me que ainda haja economistas que digam ser “isso” bom: “dinamiza a economia nacional, porque a “construção civil” é um sector estruturante, e blá-blá …” !!!!!!

Há muitos sectores, mais ou menos, estruturantes; não apenas a construção civil. Também a indústria do armamento é um sector estruturante, mas é-o (estruturante) se houver guerras ou enquanto as guerras se poderem “encomendar”.

Eu não tenho dúvida que a construção civil pode ser (e, em geral, é) um sector estruturante da economia nacional, em virtude das amplas relações intersectoriais que promove e desenvolve a montante e a jusante.

Mas isso só é verdade se essa construção civil “sustentar” actividades (socialmente) rentáveis (ou seja, com “retorno”).

Quando a construção civil deixa de “sustentar”, de forma significativa, actividades rentáveis (por exemplo, por força de “excessivas” encomendas de um Estado que não se preocupa com a respectiva rentabilidade e correspondente retorno), então, neste caso, a construção civil deixa de exercer um papel estruturante sobre a economia nacional e passa a exercê-lo em sentido oposto: des - estrutura a economia nacional; as “encomendas do Estado”, à construção civil, não podem manter-se ad infinitum aos níveis que têm tido nos últimos anos.

A construção civil está a ser sustentada (quase - ficticiamente) pelo Estado (“guerra encomendada”) através de projectos que não são, pura e simplesmente, rentáveis ou só o serão a muitíssimo longo prazo.

É preciso ainda não esquecer que a construção civil tem, ainda por cima, uma característica muitíssimo peculiar: é a de que o seu “resultado” é rigidamente fixo ao local de implantação e que, ainda não, se exportam edifícios de fábricas, de escritórios, estádios de futebol, habitações, auto – estradas, aeroportos, vias-férreas, etc.

Por outro lado a “competência” que tal actividade teria podido induzir às empresas de “construção civil” portuguesas e aos “sectores conexos” à construção civil (cimentos, cerâmica, aço, tintas, arquitectura, engenharia, etc.) já há muito que se deveria fazer sentir, como, por exemplo, na capacidade de implantação dessas empresas em mercados externos e na exportação.

Parece-me que, contudo, não é isso que se observa; com excepção do cimento, muito do que é "consumido" na construção civil é importado e não me parece que tenha havido, nos últimos anos, aumento significativo de exportação de produtos e serviços, de algum modo, estimulados pela construção civil interna.

Quanto às empresas de “construção civil”, a sua elevada liquidez financeira tem-se traduzido, isso sim, na sua penetração em outras esferas de actividade das quais, não são pouco importantes, os sectores financeiros e bancários.

Se transformar construtores civis em financeiros e bancários é bom para Portugal, então o Estado português está no bom caminho!

Em síntese: o Estado “come”, sozinho, mais de 50% da riqueza que o País cria anualmente; se ainda por cima, quase todos os seus investimentos são de construção civil, em projectos sem ou com pouca rentabilidade (“retorno” de riqueza), só os “loucos” podem dizer que esse tipo de investimentos (na construção civil) são (continuam) estruturantes para o País.

[A construção civil para habitação poderia “ter tido” algum papel na sua “rentabilização” mas não com o excedente habitacional agora existente e com um “mercado de arrendamento” destruído pelo Estado!]

Pelo contrário, estou convencido que é essencial e urgente, para a economia nacional e seu desenvolvimento, incentivar a “saída” da economia nacional da “construção civil".

O Estado Português ainda não descobriu isso e faz precisamente ao contrário: incentiva, toda a economia nacional, para se dedicar à construção civil.

Inclusive, com o seu sistema de impostos “castiga” quem quer “migrar” os seus capitais para outros sectores de actividade; por exemplo, reduz os impostos de alguém que “vende uma casa para comprar outra” quando deveria fazer, precisamente, ao contrário: deveria, sim, diminuir os impostos de alguém que com o dinheiro da venda de uma “casa” fizesse um investimento fora da construção civil.

A construção civil está a “comer” o País!