segunda-feira, junho 13, 2005

Gostaria de poder vir a ter Esperança… (IV)

Quando o Presidente da República vem dizer que as empresas (sociedade civil) têm de ajudar o Estado a resolver a crise; só pode estar a brincar!

O Estado Português sempre foi sobranceiro e arrogante face à sociedade civil e, naturalmente, aos seus cidadãos.

Até a “mentira politica”, agora tão comum, não é mais que uma delicadeza das elites políticas para com os cidadãos; “antes”, nem sentiam necessidade de “mentir” aos cidadãos, limitavam-se a fazer o que queriam.

O Estado português nunca pediu ajuda aos cidadãos porque não tem necessidade de o fazer – tira-lhes, simplesmente, o que precisa (muitas leis reflectem claramente o pouco respeito do Estado Português pela propriedade privada; veja-se as leis do arrendamento e da reabilitação urbana, em que o património privado é como que “usufruído” pelo Estado como se tratasse de património público!).

O que eu gostaria de ver reflectir ao Presidente da Republica Portuguesa era o porquê do nosso sistema político ter conduzido o País a tal estado de coisas quando há muito se sabia para onde íamos; o porquê de não se poder ter tido capacidade de parar a depredação de grande parte da riqueza nacional e das doações europeias (depredação, muitas vezes acompanhadas de “palmas” e com inaugurações “sob medida”) e o porquê de não se poder responsabilizar os seus autores, que mandato após mandato, mais à esquerda ou mais à direita, continuam impunemente a fazer o que lhes apetece contra o povo português.

Gostaria de ver o Presidente da República reflectir porque isso não se passa (ou passa-se muito menos) nos países anglo-saxónicos e do norte da Europa e porque ocorre, persistentemente, no nosso País.

Segundo a minha opinião, se não reflectirmos nas “causas primeiras” da Crise e não as resolvermos, só circunstancialmente sairemos dela.

Enquanto não formos capazes de pensar sobre a nossa concepção de sociedade; enquanto não actuarmos ao nível do quadro societário de caracteriza hoje a nossa sociedade, nomeadamente das relações Estado – Cidadania, não saírem desta crise.

Quanto muito, ela será mascarada e empurrada para a frente; aonde estoirará de novo, com muito mais força e com consequências ainda mais graves e irreparáveis para todos (inclusive para a aristocracia de serviços).

A globalização das sociedades humanas impõe novos desafios; desafios com consequências muitíssimo mais profundas e decisivas para todos nós, elites e cidadãos.

Hoje, os nichos de exploração não são possíveis de preservar para “os mesmos” durante muito tempo – este é, no fundo o grande drama da globalização; as aristocracias de vários países “contorcessem-se” contra os efeitos da “liberdade” e do conceito de “cidadania anglo-saxónico”, que se alastram lenta, mas progressivamente por todo o lado.

A “exploração” está a dar lugar à necessidade imperiosa de cooperação e interdependência entre elites e cidadãos porque, de facto, a cooperação e a interdependência são infinitamente mais eficazes que aquela (a exploração), mesmo para as elites.

(Não confundir cooperação com corporação; a cooperação exige amplo exercício de cidadania por parte de cada um dos seus elementos e a corporação exige subalternização e obediência às elites.)

Efectivamente a solução para a Crise em Portugal é, segundo a minha opinião, muitíssimo simples: basta não combater o exercício da cidadania (não confundir com promover, pois aparecerá logo alguém a distribuir subsídios e a re - afirmar o poder paternalista do Estado, tão caro às elites!); isso exige diminuição drástica de impostos e, simplesmente, “deixar os cidadãos trabalhar”.

A crise não se resolve sob o grito do Estado “deixem-me trabalhar!”. A crise resolve sob o grito dos cidadãos: “deixei-nos trabalhar!”.

O 25 de Abril e a entrada de Portugal na União não puseram termo à rebanho-ização (com mais rigor, vaca- ização) dos cidadãos portugueses pelo seu Estado (aristocracia de serviços).

É nisso que a “democracia anglo-saxónica” é um perigo para grande parte dos poderes instituídos por este planeta fora: ter considerado que as todas as pessoas são cidadãos com capacidade de se auto - governarem; que as Nações não são, de direito, os respectivos Estados mas, sim, os respectivos Povos.

Mas, mais ainda, demonstraram que isso não só é possível como é eficaz; aliás, socialmente, muitíssimo mais eficaz que o governo centralizado por estados autocráticos, por mais paternalistas que estes sejam.

Gostaria de poder vir a ter Esperança… Gostaria.