sexta-feira, junho 17, 2005

PAISAGEM URBANA: o desprezo para com o povo português (parte I)

A paisagem urbana é uma das principais manifestações culturais de qualquer sociedade humana; aí se manifestam muitos dos seus valores, do seu nível de desenvolvimento, da sua capacidade de organização, etc.

“Lendo” na paisagem urbana muito aprendemos do seu realizador.

Parte significativa do que apaixona muitos turistas é isso: “ler” a paisagem urbana e procurar entender as pessoas que moram no “sítio”.

A paisagem urbana é a resultante da acção conjunta da respectiva comunidade sobre uma dado território, contudo em organizações societárias fortemente centralizadas e ultra regulamentadas, como em Portugal, a paisagem urbana é essencialmente a imagem do resultado das decisões dos seus políticos.

Após o 25 de Abril, o poder do Estado e o intervencionismo deste em toda a sociedade portuguesa foram aumentados de forma significativa por força da concepção da Esquerda que estruturou o novo poder politico no País e passou a determinar as opções de politica nacional.

Aliás os próprios partidos de direita portugueses são muito mais de esquerda que de direita quanto ao tipo de politicas que adoptam para resolver problemas similares.

A (dita) direita (e muito menos a esquerda) não contesta o excessivo poder do Estado e o seu forte intervencionismo na sociedade portuguesa associado à forte limitação que impõe ao exercício de cidadania por parte dos cidadãos portugueses.

Em Portugal, a decisão sobre a paisagem urbana é, praticamente, da exclusiva responsabilidade dos políticos; os cidadãos portugueses têm muito poucas possibilidades de decidir sobre tais matérias, de os controlar e, ainda menos, de os responsabilizar.

Digo os políticos no sentido em que são estes (os políticos) que a nível central e autárquico decidem da “construção” da paisagem urbana em Portugal.

É nos seus gabinetes que durante meses a fio (às vezes, anos) as aprovações são decididas, frequentemente, com o empurrão monetário de quem “espera e desespera” para, afinal, poder “trabalhar” e criar riqueza para o País.

É nos seus gabinetes que os planos urbanos são acomodados, como amibas, à satisfação do interesse “maior” de quem decide; engana-se quem pensa que é o contrário – a decisão “satisfaz” em primeiro lugar o decisor, e secundariamente quem pede autorização (inclusive, porque há muitos “pedidos de autorização”, muitas vezes com “interesses” contraditórios entre si).

A promiscuidade entre “legislativo” e executivo (desde o Poder Central ao Autárquico), o ultra intervencionismo (do Estado e da Administração Pública) e a ultra – regulamentação tornam o País o pasto ideal aos “ditador - zinhos”; bem alimentados pelo seu poder discricionário associado à incapacidade, prática, de serem controlados e de lhes se exigir responsabilidades pelos seus actos.

A “comparação” entre a paisagem urbana portuguesa e da de outros países é bem uma medida de avaliação da “inteligência” do nosso poder político e dos interesses primeiros, que essa “inteligência” serve.

As críticas, quase diariamente, publicadas em todos os nossos jornais sobre os horrores do urbanismo existente em Portugal revelam-nos bem, não só, o que se passa mas, principalmente, o quanto os cidadãos não conseguem conter a “vontade”, pessoal ou corporativa, dos decisores políticos.

Ir aqui ao lado, a Espanha, constitui uma “passeio” educativo e muito esclarecedor sobre a eficiência com que Portugal (as suas elites) está organizado para construir, todos os dias, a “destruição urbana” que vemos ser executada por todos os lados.