terça-feira, março 07, 2006

Sócrates e a Finlândia

Sócrates visita a Finlândia para “aprender” do seu sucesso.

O problema de Portugal nunca foi a falta de visitas de “aprendizagem”; grande parte dos Primeiros-Ministros de Portugal são muito viajados e, muitos deles, tiraram mestrados e doutoramentos em Universidades estrangeira, inclusive na Grã-Bretanha e nos EUA.

O problema é o olhar com que os nossos Primeiros-Ministros vêem a experiência dos outros.

Geert Hofstede afirma (em Culturas e Organizações): A cultura “influencia não só a nossa vida quotidiana – a forma como vivemos, crescemos, gerimos e somos geridos e até a forma como morremos – mas também as teorias que somos capazes de desenvolver para explicar as nossa práticas. Nada na nossa vida escapa à influência da cultura.”

Ou seja, não é pelo facto de muito visitarmos e até estudarmos em Universidades estrangeiras que nos leva a olhar os “outros” sobre o ponto de vista das suas próprias culturas; “olhamos” sob o ponto de vista da cultura portuguesa e “ajeitamos” o que vemos à nossa interpretação cultural.

Ora, a cultura político-administrativa do Estado Português é de intervencionismo intenso sobre a sociedade portuguesa e de bloqueio ao exercício da cidadania.

O que Sócrates vai, pois, ver na Finlândia?

Vai ver, evidentemente, como o Estado Português ainda pode intervir mais na sociedade portuguesa; ou seja, vai arranjar ainda mais motivos para intervir, ainda mais, na sociedade portuguesa.

Não lhe passará pela cabeça ir ver na Finlândia, o papel da cidadania e da sociedade civil no sucesso da Finlândia: o tipo de controlo que a sociedade civil exerce sobre o seu Estado e sobre os políticos (por isso a corrupção é tão baixa), a politica de liberalização, desregulamentação e privatização (sem goldenshare’s) aí amplamente implementada e de um mercado de trabalho com grande flexibilidade.

Não lhe passará pela cabeça ir-se informar sobre a eficiência do seu sistema judicial, da administra pública (das menos pesadas da Europa), das baixas “mordomias” das elites públicas, etc.

Nem lhe passará pela cabeça aprender sobre o uso correcto do dinheiro dos impostos, nem de como se não deve subsidiar e proteger corporações incompetentes, nem mesmo que somando-se todos os impostos praticados em Portugal (IVA, IRS, combustíveis, álcool, autárquicos, etc.) eles ainda são maiores que os da Finlândia.

Nem mesmo, será capaz de olhar o aeroporto aonde desembarcou (simplório e provinciano quando comparado com o da Portela) e a inexistência de auto estradas e...

Bem …, ele não tem culpa (como diz Geert Hofstede); trata-se de uma cultura diferente!

Ou seja, Sócrates, como outros antes dele, irá ver o que lhe interessa e melhor se adapte à tradição intervencionista do Estado português e ao esmagamento da cidadania em Portugal.

Não vamos lá, por muitas visitas que façamos …

1 Comments:

At 2:44 da tarde, Blogger Diafragma said...

Há muitos anos fui com o meu curso em viagem de estudo aos USA. Quando saí no aeroporto de Kennedy, nessa altura absolutamente espantoso nem termos arquitectónicos, não pude deixar de parar, pousar a mala, e exclamar para um colega: "Tu já viste isto??"
Ao que ele respondeu olhando-me surpreendido:
"O quê?"

 

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