quarta-feira, março 01, 2006

A ARCO e os subsídios do Estado à cultura

Decorre em Madrid uma das feiras de arte mais prestigiadas do Mundo; este ano, cerca de 200 expositores, de quase todo o mundo, estão presentes na feira.

Das entrevistas que foram feitas, por uma televisão portuguesa, a alguns expositores nacionais presentes na ARCO, saliento: temos melhores artistas que Espanha, mas não temos o mesmo apoio do Estado.

A minha memória recuou 25 anos atrás; a uma conversa que tive com do Embaixador de Espanha em Angola (realizada ao longo de uma viagem aérea de cerca de duas horas).

Um dos temas da conversa foi a cultura espanhola, nomeadamente a cinematográfica. Nunca mais me esqueci do que na altura me disse o Embaixador Espanhol:

Enquanto o Estado Espanhol subsidiou o cinema, ganhávamos prémios por todo o mundo, mas o povo espanhol não via os filmes espanhóis; quando o Estado Espanhol deixou de subsidiar o cinema nacional, deixámos de ganhar prémios, mas o povo espanhol começou a ver os filmes espanhóis”.

E é assim!

O que terá levado aquela senhora, uma das entrevistadas, a dizer que Portugal tinha melhores artistas que Espanha?

No mínimo, essa afirmação é de uma total falta de modéstia (ou “dor de cotovelo” - a lembrar José Gil); mas, com que base afirma ela tal coisa? No número de prémios (e que tipo de prémios?); os tais, que são ganhos mas ninguém “compra”?

Bem …, e quanto à ajuda do Estado?

É precisamente ao contrário do que afirmaram alguns entrevistados; é precisamente porque o Estado Espanhol deixou de distribuir subsídios (a “paixão” dos Estados Corporativos, embora lhes chamem, hoje, Estados-Providência) que a cultura espanhola ganhou nova pujança e ganhou não só o povo espanhol como admiradores por esse mundo fora.

A solução da cultura portuguesa não é dar mais subsídios; a solução é diminuir ou acabar com os subsídios – quem tem que definir quem é “bom” ou “mau” não pode ser uma “nomenclatura” do Estado (nomeada para o efeito) ou um “Sindicato de Pares”; quem tem que o fazer são os cidadãos.

O Estado Português não tem de intervir ainda mais na produção cultural; pelo contrário, tem que a diminuir ou acabar com essa intervenção – e, evidentemente, diminuir os impostos; os cidadãos portugueses não têm poder de compra para serem capazes de incentivar qualquer produção cultural porque constituem uma população empobrecida pelo Estado Português (por força dos, absurdamente, elevados impostos, que têm de pagar).