A origem ditatorial do Estado Português
Muitos são os intelectuais portugueses que apontam o excesso de intervencionismo do Estado na sociedade portuguesa associado ao amplo bloqueio que, hoje mais que nunca, esmaga o exercício da cidadania aos cidadãos portugueses.
Essa “origem” do Estado Português está bastante bem patente num extracto, recentemente publicado no Expresso, das entrevistas de António Ferro a Salazar:
“Autoridade absoluta pode existir. Liberdade absoluta não pode existir.
Quando se procura aliar o conceito de liberdade ao conceito de progresso comete-se um erro grave.
A liberdade vai diminuindo à medida que o homem vai progredindo, que se vai civilizando. Desde o homem primitivo, absolutamente livre no mundo da sua floresta, ao homem de hoje, que obedece a sinais, obrigado a seguir, nas ruas de uma cidade, pela direita ou pela esquerda, quanta distância percorrida, quantos progressos realizados … Entreguemos, pois, a liberdade à autoridade, porque só ela a sabe administrar … e defender.
A liberdade que os indivíduos pedem e reclamam é uma expressão de retórica, uma simples imagem literária.
A liberdade garantida pelo Estado, condicionada pela autoridade, é a única possível, aquela que pode conduzir, não digo à felicidade do homem, mas há felicidade dos homens…” António de Oliveira Salazar.
É precisamente o que hoje se faz em Portugal; hoje, ainda mais que antes do 25 de Abril, o Estado assume-se como se a liberdade fosse sua (do Estado) e não dos cidadãos – a estes cabe simplesmente cumprir regras, obedecer.
Hoje como no passado, os políticos portugueses ainda não entenderam os sinais da História; não há Estados impolutos; não há oposição entre a liberdade de cidadania e progresso e desenvolvimento (pelo contrário, não há progresso e desenvolvimento com Estado centralizador); etc.
Enfim, estes políticos nem sabem (ou não querem) ver o que se passa à sua volta: foi a democracia anglo-saxónica centrada em torno de um amplo exercício da cidadania, do controlo e da forte limitação do poder do Estado que sustentou o progresso e o desenvolvimento das nossas actuais sociedades.
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